#momentosbiscoitos: Any

s01e01: a pagodev da Wakanda

Postado por Dandara Sousa em 11/08/2020 · 12 mins de leitura

Foto de Any de turbante

O #momentobiscoitos começa aqui com ninguém mais, ninguém menos que a inspiração para esse projeto. Any se descreve como Graduada em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (Unopar), Bulidora de Dados, Leitora Maluca e PagoDev. Eu diria que, além disso, ela é uma das mulheres mais fortes que Pernambuco já fez, que torna esse mundo um lugar muito mais sensato e melhor de se viver. Ela é uma amiga/irmã que veio enviada diretamente das deusas PyLadianas e que não consigo ficar sem. Tenho um orgulho imenso dessa mulher que está aniversariando hoje e deixo aqui, com vocês, um pouquinho dela para vocês ficarem com um crush de amizade.

1. Você é de longe uma das pessoas que eu mais admiro na disseminação da tecnologia como meio para facilitar a vida da sociedade. Não só das pessoas que seguem um padrão, mas de todas. Como isso começou a surgir para você e se tornou uma parte tão importante?

Veio a partir do entendimento da minha negritude. Por mais que nitidamente você saiba qual sua cor (quando se é uma pessoa negra retinta pelo menos), a construção de raça se dá pela sociedade. Foi a partir desse entendimento sobre mim, que comecei a perceber melhor o mundo à minha volta e o quanto era necessário reafirmar essa existência em todas as coisas que eu fazia. James Baldwin vai dizer que “ser negro e ser relativamente consciente na América, é estar em constante estado de raiva”, então cada vez mais que eu construía minha consciência a partir do entendimento da minha negritude, mais eu ficava com raiva das injustiças desse mundo. Então, comecei a transformar a minha raiva em um combustível que me ajudasse a pautar críticas acerca de tudo que é caracterizado como normal, mas que não está certo. Fui aplicando isso em tudo, do pessoal ao profissional e estamos aí seguindo essa caminhada que faz parte de um longo projeto que nem é meu, eu só participo nesta jornada da vida. Muita gente veio antes de mim e lutou muito para que eu pudesse fazer bastante coisa hoje, meu compromisso são com essas pessoas, com minha ancestralidade. De certa forma não faço mais que minha obrigação.

2. Como você definiria os papéis das comunidades que você participa? Não necessariamente as ligadas a tecnologia. Inclusive, é o espaço para você deixar os biscoitinhos para elas.

Eu gosto muito de fazer tudo de maneira coletiva, acredito muito na construção a muitas mãos. Cada espaço que participo, conversa com uma parte de mim, que juntas acabam construindo quem eu sou. Às vezes (acontece muito com pessoas de tecnologia) a gente acha que somos nossa própria profissão, no caso de ativistas, acha que é o próprio ativismo e não é bem por aí. Sou evangélica (continue lendo, tá certo? kkkk), parte da minha vida passei na igreja e aprendi muita coisa por lá (esse pensamento coletivo, por exemplo, oratória, liderança) assim como também tive muita raiva hahaha e foi nessa caminhada que encontrei o Movimento Negro Evangélico que é ativista no contexto de racismo religioso. A partir das minhas leituras, comecei a pensar muito no contexto tecnologia e sociedade e desenvolvi uma pesquisa relacionada a tecnologia e sistema prisional, isso me levou a participar do coletivo Liberta Elas. Nesse pensar sobre sociedade e na consciência de empoderamento que é algo coletivo e não individual como colocam, associado a releitura que precisa ser feita do povo periférico (que é de onde venho), acabei chegando no Empodera Lab. Ainda pensando nessa releitura periférica, uma coisa que sempre me incomodou foi a forma como meu bairro sempre foi visto e desvalorizado, e aqui temos pessoas incríveis. Pensando nisso construímos o Lendo Mulheres Camela. Perceba: a soma de todas as coisas que citei aí em cima faz parte de quem eu sou e do que acredito, e vai muito além do contexto com o que trabalho. Os papéis que exercem na minha vida é sempre de crescimento. Cada lugar desse, tem papel fundamental na minha construção e desenvolvimento, minha retribuição é apenas somar ao longo do caminho com os conhecimentos que tenho. Sempre digo a todo mundo que participem de comunidades, é um universo de oportunidade de desenvolvimento. Sou grata de verdade a todo espaço que me abraça e permite que eu some de alguma forma. E aqui vai meu biscoito pra PyLadies, AfroPython, Inspirada na Computação, os espaços já citados ali em cima e os demais que eu só dei uma passadinha, mas que agregou demais a minha bagagem.

3. Além da tecnologia, como é Any? Quero pontuar aqui a importância de você falar sobre o seu lado grande mulher pagodeira.

Kkkkkk Então. Eu adoro ler, sempre estou com um livro ali, lendo sobre tudo, inclusive nada hahaha. Sou essa pessoa que leio sempre e que por mais que tenha vários livros esperando para serem lidos, ama ganhar livros de presente. Mas também adoro música. Pra quem foi de igreja sabe que esse é um espaço que facilita muito o acesso ao aprendizado musical, lá desenvolvi muito esse meu lado. Toco violão, mas já toquei saxofone, tentei aprender teclado (até toquei uma ou outra música, mas não me garanto hahaha). Amo pagode e samba, por sorte ganhei um cavaquinho de presente do meu avô, e aproveitei o tempo de pandemia para aprender. Ainda tenho muito a estudar, mas já consigo desenrolar 1 hora de pagode pelo menos ahuahuhauu. Inclusive ando a procura de meninas pagoders que queiram montar uma banda de quintal (pois não é rock para ser de garagem). Minha próxima meta é aprender ukulele. Depois disso acho que irei para o mundo das flautas ou simplesmente tá bom, não sei… o poder da música é maravilhoso, recomendo a todo mundo aprender um instrumento na vida.

4. Quem te conhece sabe que você gosta muito da leitura e das referências. Como tem sido suas leituras e o que você indicaria aqui para os biscoiters (o fandom do #momentobiscoitos) como algo indispensável de leitura?

Menina sim! Como falei ali em cima, amo ler. Minha vida de leitura começou lendo gibis. E também como minha mãe é professora, ela tinha vários livros desses de escola, que tem história e exercício, de diversas séries que ela dava aula. Eu lia todas as histórias, muitas vezes, porque acabava e como eu não tinha outros livros, lia tudo de novo. Lia para minha irmã também, e às vezes ela gostava de algum específico, aí pronto! Repetia bastante a leitura. Ficava imensamente feliz quando chegavam livros novos na biblioteca da escola que ela trabalhava, porque eu lia tudo que tinha lá, bons tempos. Bom, sou o tipo de pessoa que quando penso em um assunto para ler, faço imersão mesmo, para ler tudo que posso sobre aquilo. Daí, nos tempos de igreja eu lia muita coisa do contexto religioso. Tempos depois, entendendo minha negritude, passei a ler muita coisa sobre isso e a medida que vou andando, vou descobrindo novas portas de leituras e só vou seguindo. Minha indicação é um livro que é meu livro de cabeceira literalmente, porque ele tem um pouco de tudo que falei aqui (de certa forma) e dado ao contexto atual, nessa era da informação, ele cai bem para levantar pontos de reflexão. O livro é “Comunidades, Algoritmos e Ativismos Digitais: Olhares Afrodiaspóricos” organizado por Tarcízio Silva, disponível para venda e download gratuitamente. É um livro que indico a todo mundo, porque o contexto de tecnologia dele é entendível para qualquer pessoa até mesmo as que não são da área. Poderia indicar muito mais aqui, mas vou só sugeri que você me siga no instagram e lá você vai vê tudo que venho lendo :)

Bônus track

5. Qual a grande lição que você tem tirado da vida até agora (o contexto do seu Anyversário lhe trás essa reflexão)?

Se puder, faça terapia. Eu queria ter entendido isso mais cedo, mas grande parte do contínuo amadurecimento de quem sou, vem desse processo: de me entender e compreender melhor o mundo que me cerca e me influencia. Aqui vai uma fábrica de biscoitos para quem me auxilia nessa jornada, minha terapeuta Bruna Noronha. Além disso, respeite seu corpo. Não viva como uma máquina de trabalho, respire o momento.

uma pilha de cookies com sorvete e cobertos de chocolate

Para quem você manda um pacotinho de biscoitos?

Pra minha mãe que me constrói, me ama e abraça todas as dores que ninguém vê, não tem noção nenhuma do que faço, mas me apoia igual. Além disso, atualmente tenho vencido algumas barreiras novas e tem uma pessoa que vem me ajudado muito (inclusive nem é de hoje), meu biscoito vai para Lidiane Monteiro. Todo mundo que tem o prazer de andar ao lado de Lidi sabe o quanto ela de todas as maneiras te leva a acreditar em si mesma, e sou imensamente grata por isso e por tudo. Para ela a fábrica da Nossas e de todos os biscoitos possíveis.

Por fim, onde encontrar Any?

Calma que tem o bônus track do pós créditos. Qual música Any deixa aqui para a playlist #momentobiscoitos?

Menina, eu to numa fase de desafios, e fiz uma playlist com o nome “Levanta e Anda” só com músicas nessa pegada pra me dá força e seguir. Portanto, indico a música que dá nome a playlist: Levanta e Anda de Emicida. Inclusive, escutem Emicida!

Fica o imenso agradecimento por Any ter topado essa quase cilada e um aviso o próximo episódio já tem nome e local. Vanessa Sidrim vai estar aqui neste mesmo site, esperando para ser exposta. Vocês vão entender um pouquinho de onde vem meus biscoitos pra ela. Fiquem de olho!